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Vindoura

dezembro 4, 2017

Casal de idosos conversa no hall de espera da casa espírita, enquanto entram, apressados, jovens para um evento espírita.

“- Meu neto está aí, assistindo à atividade. Já o avisei de que estou cansado e conto com ele para assumir as minhas atividades no trabalho assistencial que frequento.

Diz o outro: “- Minha neta não quis mais saber do centro. Aborreceu-se e agora está às voltas com o vestibular. Não sei o que será de nossa casa se essa geração não assumir as suas responsabilidades frente a ela?”

E ambos meneiam a cabeça, preocupados com a casa a que se dedicaram tanto tempo.

Um diálogo comum nas casas espíritas, de público e no privado, olhando o jovem espírita apenas como a geração vindoura que assumirá o legado da casa espírita. Há de se convir, um verdadeiro exercício de futurologia, dado que daquele grupo que hoje está na Juventude, tantos caminhos e mudanças virão, e tantos partirão e outros chegarão.

O jovem espírita, como qualquer jovem vinculado a uma atividade religiosa, tem as peculiaridades da sua idade, seus desafios, suas preocupações, dúvidas e encruzilhadas, e colocar nos ombros deste o fardo determinista dele assumir a casa é uma situação um tanto complicada.

Complicada, pois coloca a casa como uma herança imutável que deve ser assumida, e não como uma construção de cada geração que por ali passa. Cada época, o grupo que está ali, encarnado e desencarnado, faz a sua hora e seu momento, o que não implica que não se deve abrir espaço para os mais jovens em atividades que permitam a eles aos poucos se incluírem nas rotinas da casa, mas que sejam atividades que provoquem seu protagonismo pelo bem que isso fará à formação de sua personalidade no campo da espiritualidade, e não como um teste de sucessores.

Da mesma forma, o jovem, com tantos anseios e desafios, se vê cobrado nessa visão de “você é o futuro da casa”, quando na verdade ele está precisando da casa para acertar o seu futuro, diante dos desafios de uma personalidade que emerge em um mundo cada dia mais complexo, no qual ele tem dificuldades de encontrar referenciais, na chamada pós-modernidade, e o Espiritismo tem o potencial de o ajudar nessa empreitada.

Em outros tempos do Espiritismo, desprezamos a peculiaridade do período jovem para o trato das atividades religiosas. Um tempo que foi, felizmente, superado. A casa deve ter espaços que atendam às especificidades das fases infantil e juvenil por serem fases específicas da encarnação do Espírito, com demandas que exigem evangelizadores preparados, currículos adequados e atividades sintonizadas com esses grupos.

E no caso do jovem, na sua trajetória de amadurecimento, essas atividades são fundamentais para a formação dos seus alicerces doutrinários, é fato, mas a casa deve, em seus currículos e temas, prezar as questões que orbitam na vida destes, servindo como local de orientação segura e de acolhimento desses jovens.

E a inserção do jovem nas atividades não pode ser à maneira do idoso comerciante que tenta forçar o filho a assumir o seu negócio, e sim uma forma de exercício do protagonismo do jovem, para que ele tome gosto da ação espírita nas palestras, na atividade assistencial, na questão mediúnica, podendo no futuro ele vir a trabalhar naquela casa ou em outra, dadas as incertezas de nossos caminhos, em especial em dias atuais, nos quais questões profissionais e acadêmicas forçam nossos deslocamentos.

O importante é que aquele período na juventude espírita deixe nele marcas indeléveis que permitirão a ele, no futuro, vencer os desafios morais que se imporão. Esse é o legado interior que a casa deixa no coração do jovem e que ele levará, na forma de sementes, para as diversas casas que ele frequentará, para a sua família, para o seu trabalho, pois a finalidade do Espiritismo é formar o homem de bem e não o trabalhador da casa espírita de amanhã, ainda que essas coisas tenham uma relação entre si.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga

 

Nota do Editor:
Imagem em destaque disponível em <http://www.dij.febnet.org.br/>. Acesso em: 03DEZ2017.

Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Marcus Vinicius de Azevedo Braga

Residindo atualmente na cidade do Rio de Janeiro, espírita desde 1990, atua no movimento espírita na evangelização infantil, sendo também expositor. É colaborador assíduo do jornal Correio Espírita (RJ) e da revista eletrônica O Consolador (Paraná). É autor do livro Alegria de Servir (2001), publicado pela Federação Espírita Brasileira (FEB) e do Livro "Você sabe quem viu Jesus nascer" (2013), editado pela Editora Virtual O Consolador.

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