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“Herrar é umano”

março 11, 2016

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“Todo ser racional está sujeito ao erro, mas a ele não se encontra obrigado” (Emmanuel, ‘O Consolador’, questão 138)

Amigos de estudo da Doutrina Espírita compartilho com vocês, algumas reflexões em torno de questões pontuais do livro “O Consolador” (Chico/Emmanuel), fruto de um grupo de estudos levado a efeito em nossa Casa Espírita.

Iniciamos pela abordagem filosófica do erro, seu alcance e consequências, em apertada síntese, tendo por fundo a questão 138 do citado livro.

Primeiro ponto: errare humanum est

Você já ouviu a expressão ‘errar é humano’? Ou já a viu escrita assim: ‘herrar é umano’, em tom jocoso? Ou ainda, a locução latina errare humanum est, atribuída a S. Jerônimo (Epístola 57:12).

Emmanuel assegura, na questão 138 do livro ‘O Consolador’, que “todo ser racional está sujeito ao erro, mas a ele não se encontra obrigado”.

De fato! Na verdade, o erro é humano, muito humano. Melhor, ainda: somente humano! Se você olhar para os reinos fronteiriços ao nosso estado de Humanidade (para trás e adiante) verá que ele (o erro), não existe para os animais (por absoluta falta de consciência), nem para os anjos/espíritos puros (por progresso já realizado).

Com efeito, os animais, que agem por instinto, não estão sujeitos ao erro, que carrega consigo um componente valorativo que lhes é interdito, neste momento de individuação do princípio inteligente. Por esta mesma razão – a ausência da razão/consciência – eles também não estão sujeitos às consequências morais do erro. Em outras palavras, você não verá, jamais, um leão nascer desdentado porque comeu o primeiro Cristão que lhe apareceu no caminho.

Apenas quando Deus põe o selo da razão na fronte do Homem é que começamos o processo de escolhas, de arbítrios e, consequentemente, passamos a responder por nossos erros (e pelos acertos também!).

Como diz a sabedoria judaica (mãe de todas – ou de muitas – as Religiões), o Homem é o único animal que ri e que chora, porque é o único, na criação, capaz de distinguir entre o certo e o errado.

Logo, errar é humano. É do nosso momento evolutivo. Sim, estamos, todos nós, seres racionais, sujeitos ao erro. O que nos leva a um segundo ponto.

Segundo ponto: aprendendo com os erros

O erro faz parte do processo. Faz parte. Aliás, dos processos. De quais processos? Do processo de aprendizado. Logo, do processo evolutivo. Tendo sido criados ‘simples e ignorantes’ (LE, q. 115), é na sucessão de acertos e erros que o indivíduo adquire experiências e amplia a sua capacidade de decidir, de arbitrar a conduta correta. Por isso Emmanuel fala, na resposta àquela mesma pergunta, que “… o erro deve ser sempre levado à conta dessas experiências…” Através dele (do erro), o indivíduo aprende. E com o aprendizado, evolui.

Há uma teoria da aprendizagem conhecida, em Psicologia, como ‘ensaio e erro’, ou ‘tentativa e erro’. Em rápidas palavras, podemos dizer que a ‘aprendizagem’ ocorre quando há modificação no comportamento mediante a experiência ou a prática. Trata-se de um processo inseparável do ser humano.

Tal teoria foi formulada por Edward Lee Thorndike, psicólogo americano (1874-1949) e está na origem do conceito de condicionamento operante, de Skinner. Para ele, o ‘ensaio e erro’ é um tipo de aprendizagem que se caracteriza pela eliminação gradual dos comportamentos inadequados, que levam ao erro, e a manutenção do comportamento que obteve o efeito desejado (acerto).

Thorndike deduziu isso a partir de experimentos, preferencialmente com gatos famintos, que eram postos numa gaiola, deixando-se o alimento visível do lado de fora delas. Esses gatos, ao tentarem sair da gaiola (numa espécie de labirinto), produziam uma série de ensaios ou tentativas errôneas, até que eventualmente tocavam na tranca que abria a gaiola e o alimento era alcançado. Em experiências sucessivas o gato, aos poucos, ia eliminando todos os outros movimentos que produzia nas primeiras tentativas, conseguindo sair da gaiola e alcançar o alimento em menos tempo. Até que – clic! –  ia direto na ‘maçaneta’ da gaiola. Aprendeu!

Logo, aprender é adquirir o conhecimento de ou sobre algo.

Ocorre que isso não significa, necessariamente, modificar determinados comportamentos. Para modificá-los eu preciso mais do que conhecê-los. Eu preciso aquiescer com o conhecimento. Assentir. Concordar. ApreEnder. Deixar-me contaminar por ele.  Por isso muitas pessoas continuam fumando, embora seja do conhecimento de todos os malefícios acerca desse hábito. Por isso alguns de nós continuamos odiando, ou nos vingando, mesmo já tendo ouvido o apelo de Jesus ao amor pelos inimigos. “Já sei, já sei” – dizemos pra nós mesmos, e continuamos errando. Daí que conhecer não é tudo. Mas, digamos, é metade do caminho. A outra metade exige ação. Transformar o conhecimento em ação. TransformAção!

Terceiro ponto: aprendendo sem os erros.

Então o erro faz parte do processo evolutivo. Mas fazer parte não o torna absolutamente necessário. Não, o erro não é necessário nem ao aprendizado, nem à evolução. Porque está longe de ser a única forma de aprendizado.

É a isso que se refere Emmanuel, quando diz “(…) mas a ele (erro) não se encontra obrigado”. Não, não estamos obrigados ao erro. Nem para aprender, nem para evoluir. Kardec menciona em algumas perguntas de “O Livro dos Espíritos” que alguns espíritos conseguem seguir, desde o princípio, o caminho do bem absoluto. Está lá, na questão 124 e também na 133 e na 133-A. E Emmanuel a repete aqui e a exemplifica adiante, mais especificamente na questão 243 desse mesmo livro, ‘O Consolador’, quando menciona textualmente que “Jesus Cristo (…) cuja evolução se verificou em linha reta para Deus …”

Dito de outra forma: há outras maneiras de aprender, de se instruir, tornando sua evolução mais rápida e, sobretudo, menos sofrida! Então você não precisa praticar todos os crimes, pra saber quais são as condutas erradas e deduzir as corretas, nem trilhar todos os caminhos, para saber quais lhe convém (1Cor 6:12) e quais lhe distanciam do objetivo. Segundo a Doutrina Espírita, Deus manda uma ‘manual de instruções de como proceder’ gravado na consciência de cada Homem (LE., q. 621). Ouçamo-la.

Concluindo: do erro ao acerto ou do erro ao mal?

Talvez a questão mais filosófica de todo “O Livro dos Espíritos” seja a questão 120. Nela Kardec diz algo do tipo, ‘oras bolas, se somos criados simples e ignorantes passaremos, fatalmente, pelos caminhos do mal para chegar ao bem’, e os Espíritos superiores respondem, textualmente (e brilhantemente): “Não pela fieira (caminho) do mal, mas pela da ignorância”.

Bingo! Temas correlatos, intrinsecamente unidos, pela ordem:

Ignorância

Conhecimento

Erro

Acerto
Mal

Bem

Exemplifiquemos com o diálogo que Jesus manteve com os Fariseus, chamando-os cegos: “(…) e perguntaram: ‘acaso nós também somos cegos’. Disse Jesus: ‘Se vocês fossem cegos não seriam culpados de pecado; mas agora que dizem ‘eu vejo’, a culpa de vocês permanece’” (Jo, 9:40-41).

Entenda: se fossemos cegos (ignorantes), não teríamos culpa (pelos nossos erros), mas como dizemos ‘eu vejo’ (conhecimento, equivalente a ‘eu sei’) então subsiste (mantém-se vivo, em vigor) o nosso pecado (desconsideramos, deliberadamente, as leis Divinas e praticamos o mal)!

Portanto, meu amigo de reflexões espíritas, caso você já tenha sido contemplado por alguma luz, cuide dela! Cultive-a! Acenda-a no coração e procure adequar seus passos àquilo que você já aprendeu. Porque se errar é humano, persistir no erro, repeti-lo conscientemente, buscando o resultado, bem, aí já é maldade.

Paulo Lara

Nota do editor:
Imagem ilustrativa e em destaque disponível em
<http://kyoooo.deviantart.com/art/Walking-opposite-direction-184348194>.
Acesso em: 11MAR2016.

Paulo Lara
Paulo Lara

Trabalhador da última hora junto ao Grupo Espírita Esperança e Caridade de São José do Rio Preto, Interior do estado de São Paulo.

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